
SOBRE O QUE NÃO FOI DITO
NA ANGÚSTIA PASSIONAL
A cidade ostenta sua religiosidade.
Arte barroca e um anjo ao avesso
Prega o amor aos pervertidos.
Eu sou o anjo, Lusitânia.
Sou que te guarneço.
Ao meu lado adormece um lobo
Manipulando minhas teses e todos os sentidos,
Versejando o que não sinto,
Ocultando o que me é sabido
E o alter ego só queria brindar
Ao amor e nada além do afeto feminino
E de tantas delongas o amor foi paulatino.
Foi paulatino o agouro das crenças de menino
E nada restou ao ego que paulatinamente
Devastasse o assombro da selva juvenil.
O anjo perdeu a idiossincrasia no tormento
Quando buscar queria
A mulher dos seus sonhos, o libertamento
Da utopia,
Desconhecendo que a utopia era o avivamento
Da mulher que lhe luzia.
II
A cidade exibe sua crueldade.
Demônios luzidios dissimulam ansiedades,
Paixões esmorecidas, platonismo ao avesso.
Eu sou o demônio, Lusitânia.
Sou eu que te enlouqueço
E um ser subnutrido me desperta com cantos
Do amor que nunca colhi, nunca plantei no entanto.
O poeta só queria ser terno sem ser eterno,
Mas o conduzo apenas às portas do inferno
E o levo à loucura em paulatinas crises,
Paulatinas utopias, efêmeros concretismos
E não são paulatinos os seus dias felizes.
Ora eu e o poeta rumamos ao abismo.
A morte natural, implora o poeta.
O suicídio matinal, observa o demônio.
E enquanto travam lutas o pesadelo e o sonho,
Mais sedenta ainda sucumbe a alma inquieta,
Quase alheia aos monstros, aos anjos, ao próprio dono
E não há alma feminina que lhe acalante o sono.
(BELLMOND, David. VIDA VIDE VERSO. Editora do autor: Vitória-ES, 1999, Páginas 92 e 93.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário