

O ANJO MORTO
À Conceição e Rodrigo
A mãe acalanta o filho
Num berço de desprazer,
Concentrando no menino
O orgulho de ser mulher.
Se o pequeno chora, a mãe
(no frio daquele leito)
Lhe cede o colo, o canto,
A voz amiga, o peito.
Enquanto esperam soturnos
A providência divina,
O pai por certo perambula
Em ignorada esquina.
A mulher amamenta o filho
Crendo que o choro é de fome,
Porém dentro do menino
Há uma dor que não tem nome.
A mãe entra em desespero
Com o choro da criança.
Falta fubá pro mingau,
Falta razão pra esperança.
Por fim o filho adormece,
Enquanto a mulher cantarola:
Quem sabe um dia ele cresce?
Quem sabe vai à escola?
A mãe embala o anjo
Crendo que ele está vivo,
Sem saber que ele dorme
O sono definitivo.
(BELLMOND, David. VIDA VIDE VERSO. Editora do autor: Vitória-ES, 1999, Página 71.)
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