
BONS TEMPOS
Bons tempos em que a ladeira
Não tinha calçada e a gente
Tirava o barro das ruas
Para fazer casa de estuque.
O telhado eram folhas
De bananeira ou coqueiro.
Quando chovia lá dentro
Saíamos para o aguaceiro.
Voltávamos encharcados
Com gripe e nosso pai zangado
Nos punia com chicotes
Feitos de varas de goiaba.
Bons tempos em que o pão
Era repartido ao meio,
Manteiga escassa, leite não.
Ensopado de carne bovina
Era só no início do mês
E suco das laranjas
Que a gente pegava na feira.
No jantar um ovo frito
Novamente repartido
Com feijão e um pouco de arroz.
Bons tempos em que a lata d’água
Era diariamente transportada
Morro abaixo, morro acima.
Minha mãe lavando roupa
Para por os filhos na escola.
Os filhos no colegial,
Minha mãe sem saber ler.
Bons tempos que na verdade
Só despertam a saudade
Do meu pai contando histórias
Sobre os imensos cafezais
Do velho Odilon Milagres
E suas façanhas juvenis
Nos bailes lá do sertão,
O acordeão e as namoradas
Espalhadas nas cidades.
------------------
Bons tempos em que a ladeira
Não tinha calçada e a gente
Tirava o barro das ruas
Para fazer casa de estuque.
O telhado eram folhas
De bananeira ou coqueiro.
Quando chovia lá dentro
Saíamos para o aguaceiro.
Voltávamos encharcados
Com gripe e nosso pai zangado
Nos punia com chicotes
Feitos de varas de goiaba.
Bons tempos em que o pão
Era repartido ao meio,
Manteiga escassa, leite não.
Ensopado de carne bovina
Era só no início do mês
E suco das laranjas
Que a gente pegava na feira.
No jantar um ovo frito
Novamente repartido
Com feijão e um pouco de arroz.
Bons tempos em que a lata d’água
Era diariamente transportada
Morro abaixo, morro acima.
Minha mãe lavando roupa
Para por os filhos na escola.
Os filhos no colegial,
Minha mãe sem saber ler.
Bons tempos que na verdade
Só despertam a saudade
Do meu pai contando histórias
Sobre os imensos cafezais
Do velho Odilon Milagres
E suas façanhas juvenis
Nos bailes lá do sertão,
O acordeão e as namoradas
Espalhadas nas cidades.
------------------
Hoje a vida é menos pungente.
Pouco mudou, mas estamos
Prestes a crer no futuro.
E se mudou alguma coisa,
Mudou a família unida
Na hora de adormecer,
Onde minha mãe obrigava
Todo mundo ao padre nosso,
Rezando a Ave Maria
Por tantas barrigas vazias.
Pouco mudou, mas estamos
Prestes a crer no futuro.
E se mudou alguma coisa,
Mudou a família unida
Na hora de adormecer,
Onde minha mãe obrigava
Todo mundo ao padre nosso,
Rezando a Ave Maria
Por tantas barrigas vazias.
----------------
Bons tempos que de lembrar
Pontadas sinto no peito
E me esqueço quando sinto
Vontade de ser feliz.
(BELLMOND, David. VIDA VIDE VERSO. Editora do autor: Vitória-ES, 1999, Páginas 65 e 66.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário