Encontrei este panfleto sobre a mesa dos professores numa escola de Vitória. Resolvi fazer algumas inserções sem prejuízo do original e reproduzir aqui afim de disseminar dentre os colegas do ofício. Dê a sua contribuição: compartilhe com outros companheiros esse manifesto.
VEJA PORQUE O PROFESSOR ADOECE, O ALUNO NÃO APRENDE E A VIOLÊNCIA ASSUME PROPORÇÕES INCONTROLÁVEIS
O prefeito quer voto e riqueza, por isso usa a escola como palanque. Nomeia um oportunista, o secretário de educação, que quer fama e gratificação gorda e, quem sabe, uma carreira política. Os dois usam o líder comunitário de caráter duvidoso e ignorância bem conhecida. Este, controlado pela central das associações de moradores, órgão responsável pelo curral eleitoral, está nas mãos dos prefeitos.
Os empresários financiam as campanhas dos políticos (prefeito), portanto mandam no legislativo que, por sua vez, controlam o povo juntamente com as emissoras de televisão e agências de propaganda que vendem os produtos dos empresários para toda a sociedade.
Nasce do ambiente social e escolar o diretor das unidades de ensino: cansado, de vida familiar mal-resolvida, falido financeiramente, fracassado enquanto regente, pouco ensinou, pois ninguém quis aprender, no máximo um bom gritador, já de certo tempo de serviço. Emburreceu profissionalmente ao longo de sua vida funcional, nunca teve formação decente e se acha no direito de julgar a capacidade dos professores comandados por ele. Aqueles que poderiam fornecer ao diretor tal aprimoramento, os técnicos da secretária de educação, só lhe forneceram conformação. Muitos técnicos são também fugitivos, indicados por políticos, mal formados e desinformados, ou até mesmo de mau caráter. Estão ali (na secretaria de educação) para fugirem de sala de aula, com toda razão.
Os diretores fazem questão de não andarem na lei. E começam seu reinado pelas portarias: a cada portaria uma reunião. O professor com crise renal precisa tomar água constantemente. Reunião com a equipe pedagógica. A professora da educação infantil, com cistite, vai duas vezes ao banheiro. Nova reunião. O professor de Português expulsa alunos da sala de aula devido à indisciplina. Reunião com os coordenadores. O prefeito resolve esburacar toda a cidade para pagar dívida de campanha com empreiteiras, causando transtornos e engarrafamento e atrasos. Reunião. Anota cinco minutos de atraso do professor de inglês. Incute na cabeça fraca do professor que ele tem que dominar o aluno, subjugar, intimidar, fazer cara feia, gritar, estourar a sua garganta. Nunca admite, ou a sua ignorância não o permite ver, que a educação tem que ser um valor social. Da mesma forma que o futebol é. Se fosse um valor, automaticamente o aluno buscaria, portanto, usaríamos o método pedagógico para aprimorar, não para curar como o pedagogo induz: cola, pinta, tira foto, faz projeto pedagógico, mas não dá aula. Surge o professor multimídia, que faz tudo...menos dar aula.
Esta prática de direção traz como consequência as mais variadas doenças ocupacionais. Quem adoece o professor? Quem torna a profissão um fardo? . Quem permite que o aluno xingue e agrida o professor? Quem implanta a política assistencialista do governo nas escolas? Resposta: o diretor fugitivo. Quem permite que o aluno detonado e desinteressado fale que a sua aula não é interessante? Bom, aí não é só o diretor.
Surge em questão uma nova figura, o pedagogo; seu histórico escolar da graduação é de dar inveja a Gandhi, Martin Luther king e Che Guevara ao mesmo tempo. Estudou Filosofia, Sociologia, legislação, Políticas públicas, História da Educação e muito mais: Marx, Durkheim, Chalitas, Içami Tiba, Paulo Freire, Paulo Coelho, Roger Rabbit e etc. E mesmo assim se localiza bem à direita da direção. Às vezes dá a impressão de que é um vice diretor. Em via de regras: nunca fala das leis que podem ser usadas para beneficiar a educação de qualidade, não deseja sequer que o aluno tenha melhores condições sociais, não sugere luta social alguma. Luta sindical nem pensar. Você já viu pedagogo encaminhar greve em escola? Liderar algum movimento político contra a secretaria de educação? Denunciar diretor por abuso de poder ou omissão? Reclamar de diretor que, em vez de fazer a gestão apregoada pela nova educação, fica pelos cantos vigiando professor? O que há de errado com esta função? Você se lembra de cobrança de pautas? Parece que o trabalho do pedagogo na escola se resume a isso. Se você é pedagogo atuante, favor desconsiderar. È que isso não é comum.
Professor, abra o olho, Professor. Você não é um fraco. Muito pelo contrário. O que acontece é que as leis não são cumpridas. Não são porque ninguém pede ou exige. O jurídico do Sindiupes não quer ter trabalho e manipula os fracos dos sindicalistas. Grita-se muito e legalmente não se encaminha nada. Por exemplo: Em caso de agressão ao professor, por que o jurídico não comparece à escola agressora? Por que o sindicato não faz relatório e encaminha legalmente o caso ao Ministério Público Federal contra o diretor e a secretaria de educação? Isso não acontece porque é mais fácil adoecer o professor.
Os diretores das unidades de ensino se omitem e não encaminham juridicamente os alunos que não têm bom rendimento, indisciplinados, drogados, sem tutor de foto, desacompanhados da vida escolar e social. O aluno ilegal não é encaminhado para que o diretor não tenha trabalho e nem dê trabalho ao prefeito e conseqüentemente às outras secretarias: ação social, secretaria de obras, de transporte, direitos humanos e secretaria de saúde. A secretaria de saúde não vê a hora da prefeitura ser acionada e eles pedirem também condições de trabalho, pois na saúde ninguém quer fazer o papel de psicólogo sem ser, de psiquiatra sem ser, o de mãe sem ser, o de pediatra sem ser. Ali tem profissional, ninguém da saúde quer se responsabilizar pelo modelo social brasileiro. Com razão.
Este modelo vivido e sentido pelo professor não é percebido pelo educador. Nas escolas convidam artistas de renome local ou nacional para iludir a comunidade escolar, querem chamar até exorcista, menos a lei, menos o Ministério Público Federal, pois o Estadual provavelmente pertença ao governador. O docente não percebe que o aluno é educado para não se interessar pela escola e que existe uma receita de bolo para tirar o aluno da escola e conseqüentemente odiar o professor. Essa receita começa em um lugar aparentemente inocente e virtuoso, o CEMEI: lá o estatuto do menor e as outras leis que amparam a criança que poderiam ser usadas em beneficio delas, são covardemente ignoradas pelos diretores dessas unidades, começando aí a construção do aluno bomba que explodirá com gritos, preguiça, descaso, rojões, extintores de incêndio depredados e os hormônios na cara do professor de quinta a oitava. O diretor do CEMEI permite que a criança seja detonada pela família e pela sociedade em geral. A família consente que a criança seja direcionada para a televisão, jogos eletrônicos, propagandas, novelas pornográficas e muito mais. O resultado do descaso é um aluno que não consegue calar, nem ler e quando lê não entende. O aluno com excesso de mídia não consegue ler, fotografa as palavras. Que covardia! Será que pulei uma etapa? Depois do aluno detonado pelo CEMEI, começa a domação de primeira a quarta até a explosão. Bum! Está formado o bonde dos homens bombas (BHB), os bandidos que lotarão os presídios e as covas rasas.
Nas formações, digo: conformações, não são discutidas as leis, não são discutidas as omissões, o abandono de incapaz, do modelo social. Não se discute a rotina do aluno que fica o dia inteiro na TV, no play station, na rua. A família nunca lhe deu a opção ou lhe recomendou livros, historinhas, teatro e boa música. As conformações servem para subjugar o professor e garantir a amputação intelectual do estudante, gerando retardamento, pois esse é o objetivo principal da secretaria de educação, quanto mais retardado melhor. E não cometa a loucura de afirmar que seu aluno falastrão, indisciplinado e incapaz de aprender o mínimo seja um retardado, uma vez que essa atitude pode lhe trazer sérios problemas para o resto da vida. As secretarias de educação ignoram a existência do professor, mas se o aluno ligar para um daqueles técnicos devedores de favores ao prefeito, ao governador, aos parlamentares, aos diretores, e que passam o dia matando moscas em suas salas, eles comparecem à escola imediatamente a fim de que sejam apuradas as irregularidades nas pautas do professor de matemática que deixou metade da turma de recuperação e impor aprovação em massa independente do nível de interesse de alunos e de qual seja a denúncia feita. Com isso, o aluno normal e interessado não tem nenhum projeto ou atenção. Está fadado ao fracasso já que a escola se ocupa de apagar o incêndio provocado pelos alunos problemas.
Portanto, professor, o foco principal da nossa luta não é o salário. Exija condições de trabalho, pois o salário será consequência da educação como valor. A sociedade é feliz às suas custas. A escola tem distribuído imunidade para não se cuidar dos filhos de todo mundo. Pare de aceitar as desculpas. Faça greve junto com a categoria no ano que vem e comece o ano letivo com operação padrão. Seja professor, só aceite o aluno legal. Dê aula para aqueles 6 alunos interessados e o restante ficará com o diretor na quadra (talvez assim ele pare de ficar pelos cantos lhe vigiando como aqueles monstros criados pela ditadura afim de reprimir qualquer manifestação de insatisfação) até que ele use a lei (com outro objetivo que não seja o de ferrar professores) ou os transformem em estudantes.
PS: A gratificação de diretor é R$ 2000,00 + R$ 2000,00 em uma cadeira + R$ 2000.00 em outra cadeira. Total R$ 6000,00. Diretor do Estado: R$ 6200,00 de gratificação para a tipologia de 1500 alunos + salário de R$ 4000,00 em duas cadeiras, o que dá um total R$ 10200. Se ele precisasse realmente trabalhar para fazer jus ao salário, não estaria nadado contra a correnteza do interesse real do magistério.