Obs.: A imagem acima veio no encarte da minha fatura da Riachuelo. Achei interessante reproduzi-la junto a um tema tão recorrente na poesia: O amor (ainda que de forma tão despudorada). O mestre Drummond mais uma vez mostra seu brilhantismo na arte da lira e do erotismo. Apesar de tanto atrevimento, os versos são perfeitos com decassílabos italianos num soneto bem acabado. Rimas, sons e imagens de um grande poeta.
NÃO QUERO SER O ÚLTIMO A COMER-TE
Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde
em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde
a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,
para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.
(Carlos Drummond de Andrade)
Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde
em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde
a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,
para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.
(Carlos Drummond de Andrade)
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