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EIS AQUI O ESPAÇO VIRTUAL ONDE AS PALAVRAS BUSCAM SE LIBERTAR DO LIMBO.



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CAROS AMIGOS,

A CARA DO BLOG MUDOU, ENTRETANTO A AVENTURA DE ESCREVER CONTINUA VIVA.

ESTAMOS AQUI À ESPERA DE QUE VOCÊS NOS LEIAM E, SE POSSÍVEL, DEIXEM UM COMENTÁRIO.

ABRAÇO FRATERNO.

(HOMERO DE LINHARES)


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AVISO AOS INTERNAUTAS,

A PARTIR DE HOJE, ESTOU AQUI COM HOMERO DE LINHARES, REVEZANDO NA ARTE DA PALAVRA.

GRANDE ABRAÇO.


(DAVID BELLMOND)







segunda-feira, 30 de março de 2009

ERA UMA PRAÇA


ERA UMA PRAÇA

Era uma praça
Em Porto de Santana
Sem atrativos
Sem gente insana.

Mas era lá
Que minha solidão
Virava versos
De uma canção.

Era uma praça
Muito sem graça
Não tinha banco
Funk ou fumaça.

Mas era lá
Que com meu violão
Eu fazia cover
Da Legião.

Era uma praça
Abandonada
E eu não tinha
Nem namorada.

Mas era lá
Que eu me reunia
Com meus amigos
Todos os dias.

(David Bellmond / 28.03.09)
Poeta, mestre em literatura, professor de literatura, língua portuguesa e italiano.

sexta-feira, 27 de março de 2009

TRIBUTO A RENATO RUSSO


OS BONS MORREM ANTES (27/03/60 – 11/10/96)



Dia 27 de março é dia de recordarmos do bardo romântico-realista-simbolista-moderno Renato Manfredini Júnior. Não sabe quem é? Certamente você já deve ter ouvido a voz vociferante ou melodramática em alguma canção de sucesso dos anos 80 para cá. Ou então já deve ter ouvido alguma composição cantada por outra voz da MPB. Esse é o nome de nascimento de Renato Russo, um dos maiores ícones da música punk-pop-rock-brega tupiniquim.

Ele foi o responsável por eu aprender a ouvir música italiana, Erasmo Carlos, Rappa, Raimundos, Adriana Calcanhoto, Cássia Eller, Chico, Caetano e outros tantos grandes intérpretes e compositores nacionais. Foi ouvindo as suas canções que eu descobri a existência de poetas e pensadores como Rimbaud, Jung, Engels, Marx, Intrigas intelectuais rodando em mesa de bar.

Em 1985, quando Renato Russo surgiu nas FM’s cantando “Será” com sua voz parecida com a de Jerri Adriani, eu tinha 17 anos. Era época da primeira versão do Rock in Rio e o nosso poeta legionário não estava lá entre os grandes nomes da MPBRock. Contudo não demorou para que a febre da “Geração Coca-Cola” invadisse as antenas de TV, as ruas, os bares, as escolas, os hospitais. Em quase todos os lugares, se cantava Legião Urbana.

Eu pensei que a música da Legião seria uma peculiaridade da minha geração. Enganei-me. Nas décadas vindouras, a arte de Manfredini Júnior continuou a conquistar legiões, ou melhor, multidões de fãs. Não há uma música daquelas épocas remotas que não tenha marcado alguma momento na minha, nas nossas vidas. “Baader Meinhof Blues” embalou algumas brigas nossas na pracinha (A violência é tão fascinante). Mas brigar pra quê? “Soldados” naquele tock em que ninguém pegava ninguém (Nossas meninas estão longe daqui). “Eduardo e Mônica” nas baladas e porres de fim de semana (Não agüento mais birita). “Os barcos”nas desilusões amorosas (Você diz que tudo terminou, você não quer mais o meu querer). “Vento no litoral” quando a saudade apertou (e o vento vai levando tudo embora). “Pais e filhos” quando nossas vidas começaram a ficar mais sérias (Meu filho vai ter nome de santo). “Esperando por mim” para recordar os velhos amigos (Meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim).

Porém a mais triste de todas foi cantar “Love in the afternoon” às 10 horas da manhã do dia 11 de outubro de 1996. Foi com essa canção que eu aceitei que não haveria mais aquelas noites de euforia no Álvares Cabral e nem o retorno de madrugada a pé pela beira-mar junto com a turma cantando as mesmas canções. Renato Russo partiu.

Luz e sentindo e palavra.

E silêncio.



(David Bellmond / 25 de março de 2009)

terça-feira, 24 de março de 2009

Varições Linguísticas

Pequenos detalhes da linguagem

Você já reparou que nós, capixabas, pronunciamos a palavra “dez” com uma pequena diferença da maneira pronunciada pelos mineiros e pelos cariocas? Você sabia que os cariocas chamam de amendoeira a árvore que nós chamamos de castanheira? Lá no Nordeste, a abóbora se chama jerimum e a mandioca se chama macaxeira. Em Portugal, entrar numa fila é pegar uma bicha.
Isso é variação lingüística. Trocando em miúdos, variação lingüística é a forma como língua é concretizada conforme a região ou a época. Segundo informação colhida na Wikipédia, “A variação de uma
língua é a forma pela qual ela difere de outras formas da linguagem sistemática e coerentemente. Uma nação apresenta diversos traços de identificação, e um deles é a língua. Esta pode variar de acordo com alguns fatores, tais como o tempo, o espaço, o nível cultural e a situação em que um indivíduo se manifesta verbalmente”. Prefiro considerar as variações no tempo, que é também denominada variação temporal ou histórica, e as variações no espaço, ou seja, a variação regional ou geográfica. Tratar da variação dita “cultural” ou “social”, corremos o risco de cairmos no erro do preconceito linguístico.
Quando considero que minha fala me torna superior a um outro falante com repertório vocabular ou gramatical menos vasto que o meu, eu incorro na prática de preconceito linguístico. O problema é que independente do tipo de variação, nosso ranço de preconceito tende a considerar um traço linguístico melhor ou pior que o outro. A variação social, todavia, é mais carregada de preconceito línguístico que as demais. É comum, principalmente nas grandes cidades, considerar que o domínio da língua determina a classe social do falante. Se a pessoa “fala bem”, é de poder aquisitivo maior que aquele que não faz “bom uso” das conjugações e colocações pronominais. Seria até interessante abordar esse assunto, entretanto, devido ao curto espaço aqui concedido, nos limitaremos à questão das variações temporal e regional.
Se em São Paulo o “erre” é pronunciado de maneira diferente dos outros estados do Sudeste, ocorre a variação regional. Se há séculos o pronome pessoal você vem se modificando (vossa mercê > vosmecê > você > cê), a ocorrência é de uma variação temporal, assim como aconteceu com muitas outras palavras da língua portuguesa.
Jargão é uma palavra ou expressão comum para alguns grupos profissionais. Por exemplo, para os
advogados, peticionar significa o que os leigos conhecem por entrar com a ação ou pedir para o juiz. São "gírias " usadas por grupos de prossionais de um mesmo meio: professores, advogados, veterinários, médicos, etc”. Gíria é o recurso utilizado fazer segredo, humor ou distinguir os falantes de um deerminado grupo. É empregada por jovens e adultos de diferentes classes sociais, e observa-se que seu uso cresce entre os meios de comunicação de massa. Trata-se de um fenômeno sociolingüístico cujo estudo pode ser feito sob duas perspectivas: gíria de grupo e gíria comum.
Conhecer os níveis coloquial e culto da linguagem nos permite compreender e interagir com facilidade em qualquer ambiente que venhamos a frequentar. O nível culto exige conhecimento das regras listadas na gramática normativa, enquanto que o nível coloquial não faz exigências de regras, fala-se como se pode e se põe em prática a gramática internalizada, que é aquela que todo falante conhece.
Está dado o recado. Faça bom uso da língua que você fala.

(David Bellmond / 24 de março de 2009)

Negro: 1988

DISCURSO DE UM NEGRO EM 1888

Princesas, imperatrizes,
Meretrizes
É tudo igual.
Os negros já inventam o carnaval
Disfarçando a fome,
Enaltecendo o nome
De uma liberdade que ainda não veio
Da maneira esperada.
A abolição foi a espada
Que decepou o seio
Da mão negra que amamentava
Num canto da senzala.
O mulato, o negro esbranquiçado
Ainda mais se cala
Porque ser negro é ser rejeitado.
Ser negro é ser ex-escravo desempregado
Sem moradia e sem amor da nação
Construída pelo braço da escravidão.
E branco ainda vem dizer que Isabel é protetora
De negro. Santa redentora
Que não sabe o que é ter casa,
Ter refeição e escola como branco.
Ser negro é ser pássaro sem asa,
Sem gaiola e sem canto.

(David Bellmond /13.05.1988)

SERVIÇO DE PRETO?

SERVIÇO DE PRETO

A mulher entra no ônibus em Vitória, capital do Espírito Santo. O coletivo está lotado. A viagem é desconfortante, desagradável, a passagem é cara. Uma senhora inconformada com prestação de serviço tão desqualificada, olha pro motorista, um senhor negro, e diz: “Só podia ser serviço de preto”.
Não deu outra. O motorista do ônibus chamou a polícia e a mulher foi autuada em flagrante por prática de racismo. O que mais impressionou a sociedade em geral foi o fato de a mulher racista ser negra, empregada doméstica e com renda mensal de R$ 300,00. Diante da complicação da situação, a senhora argumenta que não poderia ter dito isso porque ela também é preta. A delegada que autuou a agressora disse que o crime de racismo se configura independente da raça de quem o pratica. Concordo em gênero, número e grau com a delegada. Afinal a minha situação social não me dá o direito de zombar daqueles que não se deram bem na vida financeiramente. Minha fé, independente da forma como eu creio em Deus, me permite olhar com desdém para alguém de crença igual ou diferente da minha. Minha sexualidade, hetero ou homossexual, não é passaporte para que eu faça chacotas com quem não é como eu.
Não importa de onde ou de quem venha o escárnio. Se casos como esse acontecem com mais freqüência no nosso cotidiano, as pessoas intolerantes e ignorantes não teriam tanta coragem de se manifestar. Não que eu deseje que o jornal informe diariamente casos de práticas de racismo, mas, se a lei fosse colocada em funcionamento, haveria um temor maior da parte dessas pessoas que ignoram que nosso povo brasileiro é uma mistura de raças, de religião, de cultura. O triste é que a promotora responsável pelo caso ordenou a libertação da senhora negra que agrediu o motorista negro por interpretar que só há crime de racismo quando o agressor se considera superior ao agredido por ser de uma raça considerada superior.
Se isso virar jurisprudência, as leis que versam sobre ofensa, injúria, calúnia, difamação e congêneres podem ser rasgadas porque não valerão mais nada. Se bem que no fundo do meu âmago, eu creio que as leis não valem nada mesmo. As leis foram criadas para beneficiar os amigos dos legisladores e incriminar os seus inimigos. No caso em questão, nem amigo dos legisladores a agressora é já que faz parte da mesma raça sofrida do agressor, assim como esse que vos escreve. Tenho dito que a atitude racista é digna de pena, antes de me irritar, uma vez que a minha atitude preconceituosa denuncia a minha falta de conhecimento de História (ignorância mesmo). Não me ensinaram nem em casa nem na escola que os negros trabalharam de graça por quase 400 anos na construção desse país. Nem me disseram que a Princesa Izabel assinou a Lei Áurea concordando com o fim da escravidão. Eu sou tão estúpido que desconheço o fato de as pessoas da minha raça estarem estudando e trabalhando para provar que negro também pode vencer na vida.
Por outro lado, minha religião também nunca me ensinou que a discriminação é inaceitável por meu Deus. Afinal as religiões só pregam guerras, intolerância e ódio por que eu seria diferente? O que me faz ser mais preconceituoso ainda é a minha ignorância em relação às leis. Existe alguma lei que promova a inibição à pratica de ofensa? Por isso é que sou racista, sexista e de direita. Agora, cá entre nós, dona negra, Serviço de preto? De onde a senhora retirou esse chavão? Do seu serviço mal executado? A culpa do transporte caro não é do motorista negro. A culpa da polícia intransigente e agressiva não é do soldado negro. A culpa da educação de má qualidade não é do professor negro. A culpa das leis mal interpretadas e protecionistas não é do advogado ou do promotor negro. A culpa é de todos nós: negros, brancos, índios, mamelucos, mulatos, pardos, marrons bombons, magentos, cor de burro quando foge, morenos, jambos e queimadinhos de praia. A culpa é de todos nós brasileiros, que não fazemos valer o que está escrito no papel e é nosso por direito. Da próxima vez, xingue a mãe do motorista que a senhora errará menos. O máximo que poderá acontecer é a senhora tomar umas bordoadas nas ventas. Mãe o motorista só tem uma. Mas, quando a senhora ofendeu a raça dele, a senhora ofendeu uma raça inteira, a começar pelos seus ancestrais que vieram lá da África e sofreram para sobreviver nesse país de mestiços.

(Homero Linhares / 23 de março de 2009)