SEJA BEM-VINDO!

BEM-VINDO AO MUNDO DA ESCRITA!

EIS AQUI O ESPAÇO VIRTUAL ONDE AS PALAVRAS BUSCAM SE LIBERTAR DO LIMBO.



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CAROS AMIGOS,

A CARA DO BLOG MUDOU, ENTRETANTO A AVENTURA DE ESCREVER CONTINUA VIVA.

ESTAMOS AQUI À ESPERA DE QUE VOCÊS NOS LEIAM E, SE POSSÍVEL, DEIXEM UM COMENTÁRIO.

ABRAÇO FRATERNO.

(HOMERO DE LINHARES)


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AVISO AOS INTERNAUTAS,

A PARTIR DE HOJE, ESTOU AQUI COM HOMERO DE LINHARES, REVEZANDO NA ARTE DA PALAVRA.

GRANDE ABRAÇO.


(DAVID BELLMOND)







segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CAPITAL INICIAL x RENATO RUSSO


Fátima

Capital Inicial
Composição: Flávio Lemos, Renato Russo

Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
Se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de neutrons não foi Deus quem fez
Alguém, alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis
Não quero ser como vocês
Eu não preciso mais
Eu já sei o que eu tenho que saber
E agora tanto faz

Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era: Fátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou
E no terceiro dia ninguém ressuscitou

(Flávio Lemos, Renato Russo)

domingo, 30 de agosto de 2009

HITLER É QUE TINHA RAZÃO?




NAZI-FACISMO X IGNORÂNCIA

Na última sexta-feira, numa aula de literatura na minha escola preferida, eu incentivava os alunos a escreverem uma resenha sobre algum filme com tema sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre a estupidez maior do século passado (o Nazi-Facismo)quando um aluno, desses que frequentam aula vez ou outra, fez uma brincadeira sarcástica sobre os milhões de mortos por Hitler. Eu, em doze anos de magistério, numa havia presenciado uma cena parecida e me assustei. Para piorar a situação, eu lhe perguntei se ele preferia estar do lado dos assassinos nazistas ou do lado das vítimas judias e ele respondeu que sim. "Lógico que eu preferia (sic) estar do lado dos que mataram". Tive a pior das reações que já esbocei até hoje diante da ignorância humana. Mostrei-me irancudo com a opção dele de considerar a atitude de Adolf Hitler a coisa mais comum do mundo. Fiquei ainda mais possesso quando uma aluna, que também vai à aula quando bem entende, interrompeu-me e disse que eu tinha que respeitar a opinião dele porque todo mundo tem que respeitar a visão do outro. Tentei ainda explicar que Hitler não havia matado 6 pessoas ou 60 ou mesmo 600 judeus, porém mais de 6.000.000, ou seja, 6 milhões de seres humanos entre judeus, idosos, crianças, mulheres, homossexuais, negros, pobres, conforme se lê na wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Neonazismo). Portanto, considerar a atitude de Hitler como algo simples de ter uma opinião ou uma visão a favor dele não era somente uma prática de democracia, mas uma titude estúpida e ignorante acerca da História, da humanidade e do bom senso.



Minha explanação não sutiu êxito, até mesmo porque os dois, agora falando ao mesmo tempo, não me deixava explicar que a defesa de Hitler não era bem vista por 99,99999 % da raça humana. A aula virou um circo e eu era um dos palhaços no palco. Perdi toda a minha noção de bom senso também e afirmei que eles não precisavam de escola e que podiam aprender bem mais fora dela. É importante lembrar que eram alunos do terceiro ano do ensino médio e que já deviam ter estudado qualquer a respeito do Holocausto. Acho que não sirvo mesmo para ser educador, pois convidei os dois alunos a ingressaremn nas fileiras de neonazismo existente em todo mundo nas sombras da internet ou outra pocilga qualquer. A intervenção pedágogica não me deixou mais aliviado, já que a coordenadora do turno me repetiu a fala da aluna advogada, dizendo que eu devia respeitar a opinião deles. Ao retornar à sala de aula após o recreio, um aluno me perguntou se, caso o tema fosse a escravidão e esboçassem reação igual, qual seria a minha reação. Eu respondi que não chamaria o aluno de estúpido ou ignorante como fiz com os dois que defenderam o Holocausto. Eu lançaria a mesa de professor sobre a cabeça dele. Afinal, pensar que os negros, assim como os índios, apanharam, foram humilhados, trabalharam de graça, foram exterminados, e agora alguém dizer que aquilo era normal não me deixaria nunca mais voltar a uma sala de aula. O estúpido, o ignorante sou eu de querer que meus alunos aprendam a ser cidadãos conscientes em uma única aula de literatura.

(David Bellmond / Professor de Literatura/ 31.08.09)

A ESTUPIDEZ HUMANA




É PRECISO SABER

Antes de lutarmos pelo nosso direito de opinião...
É preciso saber pelo menos que guerras acontecem porque um povo se acha superior a outro e precisa vencê-los para que se comprove a superioridade.
É preciso saber pelo menos que os fracos são submetidos a torturas, humilhações e mortes na guerra.
É preciso saber pelo menos que nem sempre o vencedor é quem é superior, mas quem está mais bem armado.
É preciso saber pelo menos que as guerras não trazem benefícios.
É preciso saber pelo menos que Hitler foi, antes de tudo, um dissimulado.
É preciso saber pelo menos que negros, homossexuais, mulheres, idosos, pobres, deficientes de todas as espécies eram rejeitados por Hitler, pois a raça que ele almejava era a ariana - uma raça branca, pura, de olhos azuis, germãnica.
É preciso saber pelo menos que, se não conhecermos a História oficial, o que foi escrito pelos grandes e pequenos pensadores, permaneceremos à margem de qualquer entendimento da verdadeira democracia.
É preciso saber pelo menos que seremos sempre subjugados quando nos recusarmos a abrir nossas mentes para o conhecimento.
É preciso saber pelo menos que ser democrático não falarmos o que bem desejarmos a hora que bem entendermos.
É preciso saber pelo menos que a liberdade e o direito à luta é um bem que nem a guerra, nem Hitler, nem Mussolini nem qualquer outra peste da raça humana conseguiu ainda dar fim.

(David Bellmond / Professor de Literatura / 31.08.09)

VAMOS CELEBRAR A ESTUPIDEZ HUMANA


Perfeição

1

Vamos celebrar a estupidez humana,
A estupidez de todas as nações,
O meu país com sua corja de assassinos,
Covardes, estupradores e ladrões.
Vamos celebrar a estupidez do povo,
Nossa política e televisão.
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação.
Celebrar a juventude sem escola,
As crianças mortas,
Celebrar nossa desunião.
Vamos celebrar Eros e Thanatos,
Persephone e Hades.
Vamos celebrar nossa tristeza,
Vamos celebrar nossa vaidade.

2

Vamos comemorar como idiotas,
A cada fevereiro e feriado,
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais.
Vamos celebrar nossa justiça,
A ganância e a difamação.
Vamos celebrar os preconceitos,
O voto dos analfabetos.
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros.
Nosso castelo de cartas marcadas,
O trabalho escravo,
Nosso pequeno universo.
Toda hipocrisia e toda a afetação,
Todo roubo e toda indiferença.
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

3

Vamos celebrar a fome.
Não ter a quem ouvir,
Não se ter a quem amar.
Vamos alimentar o que é maldade,
Vamos machucar um coração.
Vamos celebrar nossa bandeira,
Nosso passado de absurdos gloriosos.
Tudo o que é gratuito e feio,
Tudo que é normal.
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
( A lágrima é verdadeira ).
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

4

Vamos festejar a inveja,
A intolerância e a incompreensão.
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada.
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso,
Nosso descaso por educação.
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão.
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

5

Venha, meu coração está com pressa.
Quando a esperança está dispersa,
Só a verdade me liberta.
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera,
Nosso futuro recomeça.
Venha, que o que tem é perfeição.

(Renato Russo)

DRUMMOND - BELLMOND


UM MUNDO PERFEITO

Nas estradas de pó e de luz
Por onde seguem os nossos irmãos
Negros, todos negros perdidos,
De todos os cantos do Sudão,
Há uma trilha que vai dar no Nirvana,
Outra que vai para Jerusalém.

Na multidão escrava da fome,
Que encanto exerce o alfabeto?
Que matemática dominará
Àqueles negros desnudos, sem teto?
Só uma ciência lhes povoa a cabeça,
A de sonhar com um mundo perfeito.


TEMPO DE LUTA

Meu tempo de luta
É tempo de agora.
Lutar contra tudo,
Lutar contra todos,
Lutar contra o mundo.

Minha luta ferrenha
É contra o parágrafo
E o artigo tal,
Contra as potestades.

Sou fraco, não luto
Porque amo a guerra,
Sou absoluto
Caule de ojeriza.

Sou forte a meu modo
No meu tempo escasso.
Eterno enquanto vivo,
Vivo enquanto luto.

Minha luta insigne
Contra as potestades
É com escudo de vento
E obus de vontades.
Meu esforço só cessa
Se derrotada a injustiça.
Quanto mais envelheço,
Mais me armo pra guerra.

Morrerei em batalha,
Morto por meus devaneios,
Ostentando a bandeira
De tudo aquilo que creio.

(BELLMOND, David. Vida Vide Verso. Vitória: Editora do autor, 1999.)

HITLER...


ÉPRECISO SABER

Antes de lutarmos pelo nosso direito de opinião...
É preciso saber pelo menos que guerras acontecem porque um povo se acha superior a outro e precisa vencê-los para que se comprove a superioridade.
É preciso saber pelo menos que os fracos são submetidos a torturas, humilhações e mortes na guerra.
É preciso saber pelo menos que nem sempre o vencedor é quem é superior, mas quem está mais bem armado.
É preciso saber pelo menos que as guerras não trazem benefícios.
É preciso saber pelo menos que Hitler foi, antes de tudo, um dissimulado.
É preciso saber pelo menos que negros, homossexuais, mulheres, idosos, pobres, deficientes de todas as espécies eram rejeitados por Hitler, pois a raça que ele almejava era a ariana - uma raça branca, pura, de olhos azuis, germãnica.
É preciso saber pelo menos que, se não conhecermos a História oficial, o que foi escrito pelos garndes e pequenos pensadores, permaneceremos à margem de qualquer entendimento da verdadeira democracia.
É preciso saber pelo menos que seremos sempre subjugados quando nos recusarmos a abrir nossas mentes para o conhecimento.
É preciso saber pelo menos que ser democrático não falarmos o que bem desejarmos a hora que bem entendermos.
É preciso saber pelo menos que a liberdade e o direito à luta é um bem que nem a guerra, nem Hitler, nem Mussolini nem qualquer outra peste da raça humana conseguiu ainda dar fim.

(David Bellmond / Professor de Literatura / 31.08.09)

HITLER É QUE TINHA RAZÃO?




NAZI-FACISMO X IGNORÂNCIA

Na última sexta-feira, numa aula de literatura na minha escola preferida, eu incentivava os alunos a escreverem uma resenha sobre algum filme com tema sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre a estupidez maior do século passado (o Nazi-Facismo)quando um aluno, desses que frequentam aula vez ou outra, fez uma brincadeira sarcástica sobre os milhões de mortos por Hitler. Eu, em doze anos de magistério, numa havia presenciado uma cena parecida e me assustei. Para piorar a situação, eu lhe perguntei se ele preferia estar do lado dos assassinos nazistas ou do lado das vítimas judias e ele respondeu que sim. "Lógico que eu preferia (sic) estar do lado dos que mataram". Tive a pior das reações que já esbocei até hoje diante da ignorância humana. Mostrei-me irancudo com a opção dele de considerar a atitude de Adolf Hitler a coisa mais comum do mundo. Fiquei ainda mais possesso quando uma aluna, que também vai à aula quando bem entende, interrompeu-me e disse que eu tinha que respeitar a opinião dele porque todo mundo tem que respeitar a visão do outro. Tentei ainda explicar que Hitler não havia matado 6 pessoas ou 60 ou mesmo 600 judeus, porém mais de 6.000.000, ou seja, 6 milhões de seres humanos entre judeus, idosos, crianças, mulheres, homossexuais, negros, pobres, conforme se lê na wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Neonazismo). Portanto, considerar a atitude de Hitler como algo simples de ter uma opinião ou uma visão a favor dele não era somente uma prática de democracia, mas uma titude estúpida e ignorante acerca da História, da humanidade e do bom senso.


Minha explanação não sutiu êxito, até mesmo porque os dois, agora falando ao mesmo tempo, não me deixava explicar que a defesa de Hitler não era bem vista por 99,99999 % da raça humana. A aula virou um circo e eu era um dos palhaços no palco. Perdi toda a minha noção de bom senso também e afirmei que eles não precisavam de escola e que podiam aprender bem mais fora dela. É importante lembrar que eram alunos do terceiro ano do ensino médio e que já deviam ter estudado qualquer a respeito do Holocausto. Acho que não sirvo mesmo para ser educador, pois convidei os dois alunos a ingressaremn nas fileiras de neonazismo existente em todo mundo nas sombras da internet ou outra pocilga qualquer. A intervenção pedágogica não me deixou mais aliviado, já que a coordenadora do turno me repetiu a fala da aluna advogada, dizendo que eu devia respeitar a opinião deles. Ao retornar à sala de aula após o recreio, um aluno me perguntou se, caso o tema fosse a escravidão e esboçassem reação igual, qual seria a minha reação. Eu respondi que não chamaria o aluno de estúpido ou ignorante como fiz com os dois que defenderam o Holocausto. Eu lançaria a mesa de professor sobre a cabeça dele. Afinal, pensar que os negros, assim como os índios, apanharam, foram humilhados, trabalharam de graça, foram exterminados, e agora alguém dizer que aquilo era normal não me deixaria nunca mais voltar a uma sala de aula. O estúpido, o ignorante sou eu de querer que meus alunos aprendam a ser cidadãos conscientes em uma única aula de literatura.



(David Bellmond / Professor de Literatura/ 31.08.09)

A GAIOLA




A GAIOLA


E era a gaiola e era a vida era a gaiola
e era o muro a cerca e o preconceito
e era o filho a família e a aliança
e era a grade a filha e era o conceito
e era o relógio o horário o apontamento
e era o estatuto a lei e o mandamento
e a tabuleta dizendo é proibido.
E era a vida era o mundo e era a gaiola
e era a casa o nome a vestimenta
e era o imposto o aluguel a ferramenta
e era o orgulho e o coração fechado
e o sentimento trancado a cadeado.
E era o amor e o desamor e o medo de magoar
e eram os laços e o sinal de não passar.
E era a vida era a vida o mundo e a gaiola
e era a vida e a vida era a gaiola.

(Apud Alda Beraldo. Trabalhando com poesia. )


(Extraído do Livro de Português da oitava série - William Roberto Cereja e Thereza Cochar magalhães - Editora Atual)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

NÃO SEI

Não sei...

 

Não sei se vou ficar aqui até tão tarde...
Meus olhos já anunciam o alarde
do sono que não posso controlar,
mas, se eu não estiver quando chegar,
saiba que dormi com minha vontade
de que você venha fazer minha felicidade
não só por uma noite ou uma tarde.

Guardo comigo o último instante
em que tive o seu corpo amante.
Guarde consigo o gosto da minha saliva
e o sabor da minha carne viva.

Bela menina, corpo de mulher,
será que você sabe mesmo o que quer?


(Homero de Linhares / 25.08.09)

domingo, 23 de agosto de 2009

A TERCEIRA MARGEM DO RIO


A Terceira Margem do Rio

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.
No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.
Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.
Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.
Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

(Guimarães Rosa / Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendo.)

RESENHA - TROPA DE ELITE



TROPA DE ELITE - RESENHA

Resenha: é um texto que tem por função descrever algo e apresentar o ponto de vista do resenhador a respeitado do objeto descrito. A descrição feita pode ser de um filme, uma música, um livro, um texto, uma peça de teatro, um quadro ou uma obra de arte de maneira geral. É preciso que apareça na resenha o título do objeto resenhado, o autor, algumas informações sobre o autor ou sobre o objeto e, por fim, a análise que o resenhador faz sobre tal objeto. Eis um exemplo de resenha em que o objeto resenhado é o filme “Tropa de elite”, do diretor José Padilha.


Trapos da Elite


O filme “Tropa de elite”, do diretor José Padilha, conta a história da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Com atuação brilhante de Wagner Moura, o filme mostra uma polícia dividida entre a corrupção e o trabalho apaixonado pela profissão. Na narração do tenente Nascimento, personagem de Wagner Moura, a narrativa descreve o tráfico de drogas da cidade maravilhosa e a ação da polícia no combate ao crime ou corrompendo-se diante de uma sociedade cheia de trapos e sujeira empurrada para baixo do tapete.
Quase todo espectador que vê o desenrolar da história não consegue desviar a atenção, pois “Tropa de elite” não é só um roteiro de pancadaria. Mais que uma narrativa ao estilo policial de Van Damme ou Stallone, o filme mostra uma visão ousada da instituição que deveria nos proteger e nem sempre o faz. Eis a razão que levou os altos oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro a moverem vários processos judiciais contra a obra de ficção antes mesmo da sua exibição diante do grande público.
Fugindo à regra dos costumeiros filmes do gênero, o trabalho de José Padilha apresenta vários temas, dentre os quais estão: o jovem de classe média que trafica dentro da universidade ou faculdade enquanto que pratica sua boa ação junto a alguma ONG; a discussão teórica e ingênua acerca da violência nos meios intelectuais, o serviço prestado por uma banda podre da polícia, que cobra pessoalmente seus serviços prestados a comerciantes; a ideologia - forjada a ferro e humilhação - daqueles policiais militares que não se rendem ao charme da marginalidade e não facilitam a vida nem mesmo de policiais corruptos.
“Tropa de elite” futuca a onça com vara curta, mexe na ferida do nosso aleijão brasileiro, ou ainda, como diria o poeta irreverente baiano: para a tropa do trapo vaza a tripa. Eis a grande elite incomodada: uma parte corrompida da sociedade que quer aparentar sempre justiça, força e poder.

(David Batista – Mestre em Estudos Literários pela UFES)

HÁ CERTAS HORAS...


Há certas horas...



Há certas horas, em que não precisamos de um Amor...
Não precisamos da paixão desmedida...
Não queremos beijos na boca...
E nem corpos a encontrarem-se na maciez de uma cama...

Há certas horas, que só queremos a mão no ombro,
o abraço apertado ou mesmo o estar ali,
quietinho, ao lado...
Sem nada dizer...

Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar,
que desejamos uma presença amiga, a ouvir-nos paciente,
a brincar com a gente, a fazer-nos sorrir...

Alguém que ria das nossas piadas sem graça...
Que ache nossas tristezas as maiores do mundo...
Que nos teça elogios sem fim...
E que apesar de todas essas mentiras úteis,
nos seja de uma sinceridade
inquestionável...

Que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado...
Alguém que nos possa dizer:

Acho que você está errado, mas estou do seu lado...

Ou alguém que apenas diga:
Sou seu amor! E estou Aqui!

William shakespeare

SAUDADE É SOLIDÃO ACOMPANHADA



SOLIDÃO É SAUDADE ACOMPANHADA


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente que
nos machuca, é não ver o futuro
que nos convida...

Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
"aquela que nunca amou."
E esse é o maior dos sofrimentos:

Não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...

Pablo Neruda

PRIMEIRO LEVARAM OS NEGROS




PRIMEIRO LEVARAM OS NEGROS


"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando

Mas já é tarde.

Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo."

Bertold Brecht (1898-1956)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

NÃO ME DEIXE


Ne Me Quitte Pas

Não me deixe
(à Senhorita K)

Não me deixe
Devemos esquecer
Tudo pode ser esquecido
Que já tenha passado
Esquecer os tempos
Dos mal-entendidos
E os tempos perdidos
Tentando saber como
Esquecer as horas
Que as vezes mataram
Com sopros de porque
O coração de felicidade
Não me deixe

Eu vou te oferecer
Pérolas de chuva
Que vêm dos países
Onde não chove
Eu vou cavar a terra
Até a minha morte
Para cobrir teu corpo
De ouro e luzes
Eu farei uma terra
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde tu serás rainha
Não me deixe

Não me deixe
Eu inventarei
Palavras sem sentido
Que tu compreenderás
Eu te falarei
Sobre os amantes
Que viram duplamente
Seus corações incendiarem-se
Eu te contarei
A história deste rei
Morto por não poder
Te reencontrar
Não me deixe

Nós freqüentemente vemos
Renascer o fogo
Do vulcão antigo
Que pensamos estar velho demais
Nos é mostrado
Em terras que foram queimadas
Nascendo mais trigo
Do que no melhor abril
E quando vem a noite
Com um céu flamejante
O vermelho e o negro
Não se casam
Não me deixe

Não me deixe
Eu não vou mais chorar
Eu não vou mais falar
Eu me esconderei lá
Para te contemplar
A dançar e sorrir
E para te ouvir
Cantar e então rir
Deixa que eu me torne
A sombra da tua sombra
A sombra da tua mão
A sombra do teu cachorro
Não me deixe


(Edith Piaf)