O POETA E A PÉROLA
Quando eu tinha 10 anos e estava na quinta série, uma professora ordenou que eu lesse “A pérola”, de John Steinbeck. Eu era de família muito pobre e minha mãe disse que, se eu quisesse ler aquele livro, teria que vender picolé na rua para comprá-lo porque a gente não tinha nem comida em casa direito. Arrumei uma caixa de picolé velha emprestada e juntei o necessário para comprar o livro. Acontece que, quando eu fui comprar o livro na antiga Livraria Âncora, de Vitória, vi um livro que me chamou a atenção pela capa. Era um tal de Hermann Hesse. Comprei o livro errado. A professora brigou muito comigo e disse que, se eu não lesse a pérola, faria recuperação. Voltei às ruas para vender picolé e dessa vez comprei o livro de Steinbeck, mas li primeiro o de Hesse. Li um conto que me impressionou demais: O poeta. Era a história de um poeta chinês (Han Fook) que passou a sua vida na busca da perfeição do uso da palavra. Fiz o resumo de “A pérola”, mas pedi à professor que lesse o que eu havia escrito sobre “O poeta”. Ela se emocionou e disse que adotaria aquele livro nos anos posteriores.
Desde então eu não consegui mais parar de escrever. De trabalhos mal-remunerados, eu consegui estudar o que mais me encantava que era a busca da palavra. Da quinta série ao mestrado em Literatura foi uma longa caminhada, mas durante todo trajeto eu escrevi coisas que espantaram a mim mesmo. Se eu não fosse tão orgulhoso e defensor da liberdade de se escrever aquilo que se quer, muitos livros meus estariam sendo vendidos e lidos por aí. O problema é que eu nunca consegui aceitar que podassem minha escrita ou me dissessem o que eu precisava escrever. Por isso rejeitei convite da Maçonaria para divulgação de um livro meu, assim como não aceitei que pessoas que conheci, e que viraram prefeito, deputado, vereador, publicassem livros meus. A poesia para o poeta, a narrativa para o narrador, é um pleonasmo, mas é ainda hoje a procura da palavra que me move como havia dito Drummond, conforme descobri mais tarde.
Participei de duas coletâneas de poetas capixabas, lancei meu primeiro livro com recursos próprios em 1999. Deixei de participar de várias coletâneas por não admirar a qualidade do que era publicado, apesar dos nomes relevantes da sociedade capixaba. Benilson Pereira me disse certa vez que influência e acesso ao poder são mais importantes que talento. Nunca concordei com ele. Acho que, por isso, me limito a escrever. Tenho mais de 10 livros prontos: crônica, narrativas, críticas, poesia, análises, minha dissertação sobre Drummond, que me serviu de moeda no mestrado. Mas não consigo ver a escrita como moeda de troca e sim como terapia. Uma terapia que vicia e é paradoxalmente uma doença.
Quando eu tinha 10 anos e estava na quinta série, uma professora ordenou que eu lesse “A pérola”, de John Steinbeck. Eu era de família muito pobre e minha mãe disse que, se eu quisesse ler aquele livro, teria que vender picolé na rua para comprá-lo porque a gente não tinha nem comida em casa direito. Arrumei uma caixa de picolé velha emprestada e juntei o necessário para comprar o livro. Acontece que, quando eu fui comprar o livro na antiga Livraria Âncora, de Vitória, vi um livro que me chamou a atenção pela capa. Era um tal de Hermann Hesse. Comprei o livro errado. A professora brigou muito comigo e disse que, se eu não lesse a pérola, faria recuperação. Voltei às ruas para vender picolé e dessa vez comprei o livro de Steinbeck, mas li primeiro o de Hesse. Li um conto que me impressionou demais: O poeta. Era a história de um poeta chinês (Han Fook) que passou a sua vida na busca da perfeição do uso da palavra. Fiz o resumo de “A pérola”, mas pedi à professor que lesse o que eu havia escrito sobre “O poeta”. Ela se emocionou e disse que adotaria aquele livro nos anos posteriores.
Desde então eu não consegui mais parar de escrever. De trabalhos mal-remunerados, eu consegui estudar o que mais me encantava que era a busca da palavra. Da quinta série ao mestrado em Literatura foi uma longa caminhada, mas durante todo trajeto eu escrevi coisas que espantaram a mim mesmo. Se eu não fosse tão orgulhoso e defensor da liberdade de se escrever aquilo que se quer, muitos livros meus estariam sendo vendidos e lidos por aí. O problema é que eu nunca consegui aceitar que podassem minha escrita ou me dissessem o que eu precisava escrever. Por isso rejeitei convite da Maçonaria para divulgação de um livro meu, assim como não aceitei que pessoas que conheci, e que viraram prefeito, deputado, vereador, publicassem livros meus. A poesia para o poeta, a narrativa para o narrador, é um pleonasmo, mas é ainda hoje a procura da palavra que me move como havia dito Drummond, conforme descobri mais tarde.
Participei de duas coletâneas de poetas capixabas, lancei meu primeiro livro com recursos próprios em 1999. Deixei de participar de várias coletâneas por não admirar a qualidade do que era publicado, apesar dos nomes relevantes da sociedade capixaba. Benilson Pereira me disse certa vez que influência e acesso ao poder são mais importantes que talento. Nunca concordei com ele. Acho que, por isso, me limito a escrever. Tenho mais de 10 livros prontos: crônica, narrativas, críticas, poesia, análises, minha dissertação sobre Drummond, que me serviu de moeda no mestrado. Mas não consigo ver a escrita como moeda de troca e sim como terapia. Uma terapia que vicia e é paradoxalmente uma doença.
(David Bellmond / 19 de julho de 2009)
Nenhum comentário:
Postar um comentário