PRETO DESQUALIFICADO?
Há 120 anos ou mais,
No início da República,
Dizia-se que o preto não
Tinha qualificação
Pra trabalhar na lavoura
Como o ítalo-alemão
Que fugira da Europa
Vindo em busca de pão.
Parece que o preto era
Incapaz de aprender
A lidar com as ferramentas
Que eram suas mãos e pés
Pra riqueza e bel-prazer
Do Brasil colonial
A tratar como animal
Meus tataravôs sofridos
Escravos pretos, bandidos
Comprados, dados, vendidos
Em feiras de bugigangas.
E empregavam o branco
E humilhavam o preto
Que deixou de ser escravo
E se amontoou em guetos.
Favela era senzala,
Quilombo virou favela
E o Brasil que era somente
Brancos e escravos pretos
Passou a ser a mistura
De brancos e pretos pobres
Sem me esquecer dos índios
Que eram mortos ou trazidos
A laço ao catolicismo.
Pois bem: agora mudou
A nossa mentalidade.
Somos um povo estudado
E soberanos em igualdade.
Senzala virou empresa
E favela virou cidade.
Já não somos mais os pretos
Incapazes de aprender
A arte de ler e escrever.
Agora nós somos negros
Multiplicando o orgulho
Dessa nossa melanina
Que transborda, que esbalda
A criatividade divina
Em fazer homens diversos
Com inúmeros tons de pele
Que não cabem nesses versos.
Mesmo assim o tal do IPEA
Insiste em chamar de pretos
Minha raça vencedora
Que resistiu aos maus-tratos
De Izabel, a redentora
E sua corja de falsos.
Será que só minha raça
Precisa obter a graça
De mudar suas origens?
Mudem esse pensamento
De Dom Pedro, Darwin, Hitler,
E aceitem que não existe
Raça pura ou perfeita
E que há 120 anos
Que o meu povo é livre.
Leiam o meu direito
De ser tratado com respeito
Porque vocês me agridem
Quando me chamam de preto.
Se há algo de que me orgulho
É de ser feito de luta
E não um filho da injusta
Nação que incrimina
Por ser descendente afro,
Tataraneto de escravos.
Preto é seu preconceito.
Eu sou e sempre fui negro.
(David Bellmond / 13 de maio de 2009)
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Lindo!!!!Perfeito!!!!PARABENS!!!!!
ResponderExcluirmuito bom *-* parabéns.
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