CANTO A DESDÊMONA
Nada tenho de meu
Das viagens que fiz,
Nada trouxe dos mares
Que outrora velejei.
Tenho apenas o andor
E o corpo ferido
Pelo gume de espadas
De hordas que enfrentei.
Nada tenho que possa
Dar-te em troca do amor
Se tudo que possuo
É tudo que vivi
Lutando com Netuno,
Encantando sereias,
Fazendo meu escudo
Da minha cara feia.
Feia sim, por que não?
Se não sou erudito
Tal qual Hamlet travesso
Ou sábio como Platão.
Se quiser sobre mim
Posso tudo contar,
Esperando que assim
Você aprenda a me amar.
Posso te amar até
Que me corroa o ciúme
E eu te arranque a vida
Com a ira, com o gume
Da mesma espada fria
Usada nos combates,
Destronando reis maus
E apaixonados vates.
O demônio sou eu,
Não é quem me envenena.
Eu sou digno de morte,
Iago digno de pena.
O descobrir da verdade
Já tarde me condena.
Antes eu nunca soubesse
Que me amavas, Desdêmona.
(David Bellmond / Extraído do livro Vida Vide Verso, de 1999.)
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
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