SEJA BEM-VINDO!

BEM-VINDO AO MUNDO DA ESCRITA!

EIS AQUI O ESPAÇO VIRTUAL ONDE AS PALAVRAS BUSCAM SE LIBERTAR DO LIMBO.



________________________________________________________

CAROS AMIGOS,

A CARA DO BLOG MUDOU, ENTRETANTO A AVENTURA DE ESCREVER CONTINUA VIVA.

ESTAMOS AQUI À ESPERA DE QUE VOCÊS NOS LEIAM E, SE POSSÍVEL, DEIXEM UM COMENTÁRIO.

ABRAÇO FRATERNO.

(HOMERO DE LINHARES)


_________________________________________________________

AVISO AOS INTERNAUTAS,

A PARTIR DE HOJE, ESTOU AQUI COM HOMERO DE LINHARES, REVEZANDO NA ARTE DA PALAVRA.

GRANDE ABRAÇO.


(DAVID BELLMOND)







quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PERSONIFICANDO PERSONAGEM DE SHAKESPEARE

CANTO A DESDÊMONA


Nada tenho de meu
Das viagens que fiz,
Nada trouxe dos mares
Que outrora velejei.
Tenho apenas o andor
E o corpo ferido
Pelo gume de espadas
De hordas que enfrentei.


Nada tenho que possa
Dar-te em troca do amor
Se tudo que possuo
É tudo que vivi
Lutando com Netuno,
Encantando sereias,
Fazendo meu escudo
Da minha cara feia.


Feia sim, por que não?
Se não sou erudito
Tal qual Hamlet travesso
Ou sábio como Platão.
Se quiser sobre mim
Posso tudo contar,
Esperando que assim
Você aprenda a me amar.


Posso te amar até
Que me corroa o ciúme
E eu te arranque a vida
Com a ira, com o gume
Da mesma espada fria
Usada nos combates,
Destronando reis maus
E apaixonados vates.


O demônio sou eu,
Não é quem me envenena.
Eu sou digno de morte,
Iago digno de pena.
O descobrir da verdade
Já tarde me condena.
Antes eu nunca soubesse
Que me amavas, Desdêmona.


(David Bellmond / Extraído do livro Vida Vide Verso, de 1999.)

Teatro de Gil Vicente

TODO MUNDO E NINGUÉM

Ninguém: Tu estás a fim de quê ?

Todo Mundo: A fim de coisas buscar
que não consigo topar.
Mas não desisto, porque
O cara tem de teimar.

Ninguém: Me diz teu nome primeiro.

Todo Mundo: Eu me chamo Todo Mundo
e passo o dia e o ano inteiro
correndo atrás de dinheiro,
seja limpo ou seja imundo.

Belzebu: Vale a pena dar ciência
e anotar isto bem, por ser fato verdadeiro:
Que Ninguém tem consciência
e Todo Mundo, dinheiro.

Ninguém: E o que mais procuras, hem?

Todo Mundo: Procuro poder e glória.

Ninguém: Eu cá não vou nessa história.
Só quero virtude...Amém.

Belzebu: Mas o pai não se ilude
e traça: Livro Segundo.
Busca o poder Todo Mundo
e Ninguém busca virtude.

Ninguém: Que desejas mais, sabido?

Todo Mundo: Minha ação elogiada
Em todo e qualquer sentido.

Ninguém: Prefiro ser repreendido
quando der uma mancada.

Belzebu: Aqui deixo por escrito
o que querem, lado a lado:
Todo Mundo ser louvado
e Ninguém levar um pito.

Ninguém: E que mais, amigo meu?

Todo Mundo: Mais a vida. A vida, olé!

Ninguém: A vida? Não sei o que é.
A morte, conheço eu.

Belzebu: Esta agora é muito forte
e guardo para ser lida:
Todo Mundo busca a vida
e Ninguém conhece a morte.

Todo Mundo: Também quero o Paraíso,
mas sem ter que me chatear.

Ninguém: E eu, suando pra pagar
minhas faltas de juízo!

Belzebu: Para que sirva de aviso,
mais uma transa se escreve:
Todo Mundo quer Paraíso
e Ninguém paga o que deve.

Todo Mundo: Eu sou vidrado em tapear,
e mentir nasceu comigo.

Ninguém: A verdade eu sempre digo
sem nunca chantagear.

Belzebu: Boto anúncio na cidade,
deste troço curioso:
Todo Mundo é mentiroso
e Ninguém fala a verdade.

Ninguém: Que mais, bicho?

Todo Mundo: Bajular

Ninguém: Eu cá não jogo confete.

Belzebu: Três mais quatro igual a sete.
O programa sai do ar.
Lero lero lero lero,
curro paco paco paco.
Todo Mundo é puxa-saco
e Ninguém quer ser sincero!

(Auto da Lusitânia, de Gil Vicente / Versão de Carlos Drummond de Andrade)