
Análise sobre o livro “Para compreender Saussure”, de Castelar de Carvalho.
O livro Para Compreender Saussure, de Castelar de Carvalho, intenta ser uma elucidação do texto que mais incomoda os estudantes de Letras de língua portuguesa: o “Cours de Linguistique Générale”, que é uma compilação dos três cursos de Lingüística Geral ministrado por Ferdinand Saussure no período de 1906 a 1911 na Universidade de Genebra. O professor Castelar de Carvalho busca transformar o CLG (Curso de Lingüística Geral) numa leitura simples e didática, já que o mesmo tem sido ao longo dos últimos tempos a leitura mais difícil e intrínseca dos nossos estudantes de língua portuguesa.
Antes de Saussure, a Lingüística passa por três fases comentadas pelo professor Castelar de forma bem resumida: a primeira fase voltada mais para a Filosofia, a Segunda voltada para a Filologia e terceira que subdivide-se em outras duas. A terceira fase é composta de uma fase naturalista, onde a preocupação é coma história interna da língua, e de outra fase chamada culturalista que preocupa-se com os fatores externos, condicionadores da língua.
Ferdinand de Saussure, depois de manter contato com a Lingüística Comparatista, influenciou os mais importantes comparatistas franceses e daí nasceu o CLG. Segundo Saussure, o estudo lingüístico deve assumir a seguinte forma racional: a linguagem dividida em langue e parole; a langue, por sua vez, subdivide-se em sincronia e diacronia; a sincronia subdivide-se em relações paradigmáticas e relações sintagmáticas.
O professor Castelar de Carvalho discute os tantos pares de distinções que fundamentam a doutrina de Saussure e apresenta, ao final da exposição das dicotomias, uma análise crítica das mesmas.
Na langue e parole, que segundo Castelar é a dicotomia básica e uma das mais fecundas, a crítica parte do romeno Eugênio Coseriu ao propor que a linguagem seja tripartida e o sistema proposto vai do mais concreto (parole) ao mais abstrato (langue) , seguindo caminho contrário ao de Saussure.
Para Saussure deve ser dada prioridade ao estudo da sincronia, discordando dos neogramáticos que favoreciam a pesquisa histórica (diacronia). Para abordar o sistema lingüístico, deve-se analisar e avaliar suas relações internas, por isso a preferência de Saussure pela sicronia. A sincronia por sua vez dá origem à outra dicotomia: as relações sintagmáticas e relações paradigmáticas.
Nas relações sintagmáticas, um termo passa a Ter valor em virtude do contraste com outro que o prece ou que o sucede, ou a ambos, sem que se exclua esse ou aquele. Nas relações paradigmáticas, uma unidade exclui a outra, substituindo-a.
Da natureza do signo, Saussure afirma que o signo é a união do sentido e da imagem acústica. Os dois elementos que formam o signo (significante e significado) são interdependentes e inseparáveis. Na crítica à Teoria do Signo, Castelar acentua a argumentação dos lingüistas Ogden e Richards de que o signo constitui-se de uma relação triádica - símbolo, pensamento (referência) e coisa (referente).
Quanto à arbitrariedade e linearidade do signo lingüístico, o autor de Para compreender Saussure advoga pelo CLG, apresentando o argumento dos seus críticos e contra-argumentando em favor do mestre genebrino (“Ora, somos levados a crer que os críticos do mestre de Genebra demonstram não terem apreendido o pensamento saussuriano em toa a sua profundidade e coerência”, p. 65).
No capítulo em que trata da noção de valor, o professor Castelar propõe a “ampliação do entendimento” sobre a afirmação de Saussure de que língua é forma e não substância. Para isso disserta sobre a dupla articulação da linguagem, valor e forma e os pares opositivos na língua. Sobre esse último item, Castelar opõe as vogais orais às nasais, as vogais abertas às fechadas, consoantes x à consoantes y, etc. Por fim conclui que “o valor resulta sempre de uma comparação e de operações funcionais entre os termos do sistema lingüístico.
Aceita-se que Para compreender Saussure tem por objetivo fazer uma releitura do CLG, o que Castelar de Carvalho já afirmara na abertura do seu trabalho. Ao mesmo tempo em que cumpre seu objetivo, o autor faz avaliações sobre a lingüística saussuriana numa linguagem, simples e mais acessível que aquela do próprio “Cours de Linguistique Générale”. É preciso levar-se em conta que o próprio Saussure escreveu apenas um livro (“Memoire sur le Primitif Système des Voyelles das les Langues Indo-Européenes”), o que nos faz crer que alguma coisa do que o mestre ensinou deve ter se perdido, mas o que foi aproveitado e interpretado por seus alunos - Charles Bally, Albert Sechehaye e Albert Ridlinger- passa a Ter uma linguagem mais clara graças ao professor Castelar de Carvalho.
(David Batista / Mestre em Estudos Literários)